quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Quem vê cara não vê coração

Hoje teremos uma carta.

Na última sexta-feira não trabalhei, pois no mês do aniversário a empresa concede o "day off". Então, eu que sou uma pessoa com uma vida social agitada, fui ao médico. Quando saia de lá, em minha direção veio um malaco, mano. Eu pensava, guardo o celular e deixo ele levar a bolsa, ou fico com o celular na mão e perco só ele.

Pois bem, o cara me abordou, ele parecia jovem, mas bem mano. Nesse momento meu coração parou de medo. Então ele com um papel na mão perguntou: "Moça, sabe me informar como faço para chegar no endereço xxx". Eu peguei o papel e percebi que a rua que ele informou era longe do ponto de referência escrito. Eu perguntei para era ele o que era e, então ele me contou que ele não era de Curitiba e sim do litoral e, que trabalhava como gari temporário e precisava retirar a rescisão dele, pois ele estava com a filha de 3 anos no Hospital com um tumor na barriga, e que a esposa que estava grávida de quase 9 meses, para ganhar bebê. 

Então, eu liguei para o número que ele me passou, que era de uma empresa de Recursos Humanos, falei em nome dele e pedi o endereço, a pessoa que me atendeu, grossamente (se é que essa palavra existe) falou que ela tinha dado o endereço correto a ele (mentira), e que o atenderia apenas após o almoço.
O endereço era uns 5 km de onde estávamos e o endereço que ela havia dado estava incorreto, ou seja, o cara andaria até o PQP e ia dar de cara com o muro.

Eu informei o endereço correto e expliquei que ele deveria pegar um ônibus e blablabla. Então ele falou: 'Pode me explicar como faço para chegar a pé, pois não tenho dinheiro", mas em momento algum ele pediu dinheiro. Como eu não estava fazendo nada e a mulher do RH me deixou com raiva, mesmo com muito medo ainda, dele ser aquele tipo do bilhete premiado, e que me sequestraria e me esquartejaria depois, mesmo assim, resolvi levá-lo.

No caminho ele me contou a história dele, que a filinha dele de 3 anos começou a passar mal e então ela ficou desacordada e ele tentava reanimá-la no colo dele, ele pediu ajuda a um vizinho, que é cadeirante que o ajudou e o levou ao hospital, então o hospital o encaminhou para um hospital especializado em pediatria. 
Ele falou que ficaria com ela até o fim, que estava com muito medo, pois ela teria que fazer quimio e ela chorava de saudade da mãe, e que não pode fazer esforço físico.

Eu fiquei escutando ele falar, com um nó na garganta, ele fazendo todo o esforço do mundo para cuidar da filha e segurar as pontas para a esposa que está esperando outro bebê, ele que é jovem, poderia com ter "tocado o foda-se", mas não, ele que estava em uma cidade na qual não conhecia nada, sem um puto, sem tomar banho, sem estadia, e com uma filha pequena no hospital, fazendo de tudo para salvá-la, senti uma admiração imensa por aquele cidadão. 

Então recordei, meu pai que me abandonou com a maior saúde do mundo ainda pequena, enquanto aquele rapaz com uma aparência de bandido, estava procurando receber o dinheirinho suado, de gari, para comprar remédios e para poder mantê-lo aqui, mesmo sem ter o que comer, morar, ou se locomover e ainda sem pedir nada.  

Mas a história não acaba por aí. 

Ele que estava em Curitiba pela 1ª vez, (isso que o nosso litoral é apenas uma hora daqui) e estava dormindo no hospital, para acompanhar a filha, que ele não a deixaria sozinha. 
Quando chegamos até a empresa, a pessoa que atendeu, ficou me olhando com uma cara de c#, então ela perguntou pra ele, quanto ele precisava.
Ele respondeu  
- Ai dona Mari, preciso de R$250.
E a véia cara de maracujá de gaveta respondeu. 
- Ahhhhh Fabiano, tenho apenas R$100, segunda te dou o resto. 
E eu com aquela cara de Darth Vaider pra ela. Eu não me aguentei e falei. 
-Escuta aqui minha senhora, quando você entregará o resto do dinheiro pra ele? Porque ele não conhece nada de Curitiba e não vai voltar aqui, com a filha no hospital. 
E a veia. 
- Fique tranquila, peço para alguém levar o dinheiro pra ele. 
Ele pegou o dinheiro e fomos embora. Quando estavamos saíndo ela falou:
- Obrigada por trazê-lo. 
E eu com cara de c# falei:
-Mas eu não fiz isso por você, e sim por ele.
Silêncio constrangedor...

Sei que, algumas pessoas vão pensar, 'Mas porque faz filho, blablabalb..' Meu, um pessoa com uma outra realidade, que a gente acha que não existe, sem nenhuma instrução, mas com uma índole invejável por qualquer playboy ou doutor por aí. 

Nesse dia, fiquei o dia todo refletindo. Como pode uma pessoa tão humilde, mas com um caráter invejável! Quando chegamos em frente ao hospital, tinha  R$50,00 na carteira, coisa que nunca acontece, pois nunca tenho um puto, dei a ele, e sei que fará muito mais falta para ele do que pra mim. 

Tentei ajudá-lo, pedindo roupinhas de bebê, comida para ele, mas não vejo muita comoção das pessoas. Então, vejo que as pessoas são realmente muito mais pobres, mesmo tendo dinheiro...

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